quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entrevista com Ahmadinejad - Presidente do Irã

A entrevista começa com Ahmadinejad falando em nome de Deus, Todo Poderoso, que reaparece na imagem do Imã, a referência ao Aiatolá Khomeini, o líder da revolução islâmica iraniana.

“O Brasil”, disse ele, “pode ajudar bastante ao Irã em vários setores, como agricultura, ciência, indústria, energia”. “Mas importante mesmo”, acentuou, “é a possibilidade de uma cooperação internacional entre Brasil e Irã” a partir do que Ahmadinejad chama de “fracasso do sistema capitalista”.

“Os dois países podem trabalhar juntos para ajudar a desenhar uma nova ordem internacional. Podemos afinar nossas visões. Podemos ter um papel construtivo para fazer o mundo melhor. Brasil e Irã têm esse potencial”.

Capitalismo

Ao ser lembrado do fato de que o Brasil é e pretende permanecer uma economia capitalista, Ahmadinejad contra-argumentou dizendo: “O tipo de capitalismo que nós conhecemos alcançou o fim da estrada. Ele vai contra o conceito de justiça social. A principal idéia do capitalismo contradiz a da justiça. Acredito que tanto o Irã quanto o Brasil estão buscando construir um sistema econômico justo, baseado em princípios humanitários”.

Cooperação nuclear

Ele propôs ao Brasil uma ampla cooperação nuclear para construção de usinas geradoras de eletricidade, deixando claro que não está pensando na importação de tecnologias sofisticadas e de disseminação controlada. “Nós temos uma tecnologia nuclear própria”, afirmou.

Ahmadinejad disse que o Brasil e o Irã enfrentam dificuldades semelhantes para desenvolver tecnologias próprias no campo nuclear.

Ao contrário do que dizem as potências ocidentais, que acusam o Irã de desenvolver um programa com fins militares, Ahmadinejad afirma que as atividades nucleares iranianas estão sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica, de Viena. E que não há mais o que negociar.

Pergunto se no setor nuclear ele conta com o apoio brasileiro. “Eu disse que o Brasil sempre deu apoio ao direito iraniano de ter tecnologia nuclear, e somos gratos por isso. Nossos inimigos fizeram de tudo para nos impedir: aprovaram resoluções contra o Irã, impuseram sanções, ameaçaram reagir militarmente, lançaram campanhas políticas. Mas eu penso que é a vez de outras nações, como o Brasil, se erguerem”.

Eleições

No campo das relações políticas, menciono o apoio recebido por Ahmadinejad no dia seguinte à eleição presidencial no Irã, quando havia acusações de que a eleição fora fraudada, pessoas apanhavam nas ruas e o presidente Lula disse que ele, Ahmadinejad, era o vencedor.

William Waack: “O senhor é grato a Lula?”

Ahmadinejad: “Isso é absolutamente certo. Eu realmente gostei da postura dele. Nos encontramos alguns anos atrás. Somos muito bons amigos”.

Mas o senhor e o presidente Lula têm visões diferentes no que se refere a questões internacionais, por exemplo, no conflito na Palestina. O Brasil reconhece o direito de existência de Israel, e Lula perguntou ao senhor sobre suas declarações acerca da matança de judeus na Segunda Guerra Mundial, que para Lula e a maioria dos brasileiros são inaceitáveis.

“Quando recebemos amigos, significa que compartilhamos visões em uma atmosfera amigável, e tentamos atingir alguns pontos comuns. Não há razão para que dois amigos pensem o mesmo em todos os campos. Talvez com respeito a alguns aspectos precisemos dialogar mais”.

Holocausto

Na mesma resposta, ao falar sobre o holocausto, Ahmadinejad alterou um pouco suas declarações anteriores, que eram a de negá-lo totalmente. “A questão que apresentamos é muito clara. Eu fiz dois questionamentos, fiz duas perguntas claras.

A primeira questão era: ‘se o holocausto aconteceu, onde aconteceu?’ Claramente, aconteceu na Europa. Todo mundo sabe disso. Se aconteceu, aconteceu na Europa. A segunda pergunta: ‘o que isso tem a ver com o povo palestino?’ Por que o povo deveria pagar por isso? Por que deveriam dar a terra dos palestinos por causa de crimes cometidos na Europa?”

A resposta de Ahmadinejad implica em negar a existência de Israel, e na pergunta seguinte digo a ele que a posição do Brasil é a de apoiar a solução de dois Estados, portanto a existência de Israel. Ele acha que o Brasil teria de mudar de posição?

“Não vamos interferir na decisão feita pelo Brasil. O Brasil é um país independente. Nós temos nossos argumentos. E dividimos nossos argumentos com amigos brasileiros, mas o relacionamento entre os dois países não será afetado por esse tema”.


Entrevista concedida por William Waack

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